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Pré-natal de
Qualidade

Aconselhamento e Dispensação
de Contraceptivos e Prevenção
da Gravidez na Adolescência
para ACS

Capa das páginas do curso Campus Virtual

Módulo 2 | Infecções durante a gravidez

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Aula 1

Sífilis na gestação

Objetivos de aprendizagem:

  • Conhecer a situação epidemiológica da sífilis na gestação, no Brasil.
  • Distinguir as fases clínicas da sífilis.
  • Compreender o significado de “rastreio” para sífilis na gestação.
  • Acompanhar o tratamento de gestantes com diagnóstico de sífilis.
  • Realizar busca ativa de parcerias.
  • Acompanhar a realização de VDRL mensal após o tratamento.

O que é sífilis?

A sífilis é uma infecção bacteriana sistêmica, crônica, curável e exclusiva do ser humano. Quando não tratada, evolui para estágios de gravidade variada, podendo acometer diversos órgãos e sistemas do corpo. Sua transmissão se dá principalmente por contato sexual; contudo, pode ocorrer transmissão vertical para o feto durante a gestação de uma mulher com sífilis não tratada ou tratada de forma não adequada.

Fonte: Freepik (2025)

A maioria das pessoas com sífilis é assintomática; quando apresentam sinais e sintomas, muitas vezes não os percebem ou não os valorizam, e podem, sem saber, transmitir a infecção às suas parcerias sexuais. Quando não tratada, a sífilis pode evoluir para formas mais graves, comprometendo especialmente os sistemas nervoso e cardiovascular.

Atenção

Atenção!

Na gestação, a sífilis pode apresentar consequências severas, como abortamento, prematuridade, natimortalidade, manifestações congênitas precoces ou tardias e/ou morte do recém-nascido (RN).

Vamos entender como essa doença se manifesta e como é seu tratamento durante a gestação. Mas antes disso, vamos entender o que é rastreamento.

> O que é rastreamento

Rastreamento de doenças, também conhecido como screening, é um processo que identifica uma doença em pessoas assintomáticas, sem qualquer manifestação da doença.

É exatamente o que ocorre no caso da sífilis na gestação. A maioria das gestantes eventualmente diagnosticadas encontra-se na fase de latência, uma fase caracterizada pela ausência de sintomas.

A solicitação do Teste Rápido para sífilis em gestantes assintomáticas é uma forma de rastreio para identificar uma doença que não é percebida pela paciente.

No rastreamento, um exame positivo não implica fechar um diagnóstico, pois geralmente são exames que selecionam as pessoas com maior probabilidade de apresentar a doença em questão. Outro teste confirmatório (com maior especificidade para a doença em questão) é necessário depois de um rastreamento positivo, para que se possa estabelecer um diagnóstico definitivo.

Fonte: Freepik (2025)

Por isso, um Teste Rápido para sífilis positivo não significa que a paciente tenha sífilis. Pode ter tido no passado e já tratou. Testes confirmatórios são necessários para fechar o diagnóstico.

Algumas vezes um teste de rastreio positivo não é confirmado por um teste diagnóstico. Isso chama-se falso positivo. Na sífilis, muitas vezes o tratamento é iniciado antes de fechar o diagnóstico. Isso pode não ser aceitável para algumas doenças, mas no caso da sífilis o “Sobrediagnóstico” é aceitável, tendo em vista a gravidade da doença e a segurança do tratamento.

> Sífilis no pré-natal

A sífilis é uma doença de alta prevalência entre pessoas adultas e gestantes. Perceba nas estatísticas a seguir:

Sífilis em gestantes

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86.111 casos (taxa de incidência de 34,0/1.000 NV).

Sífilis congênita

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25.002 casos (taxa de incidência de 9,9/1.000 NV).

Óbitos

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196 casos (< 1 ano) (taxa de mortalidade de 7,7/100.000 nascidos).

O monitoramento das taxas de detecção de sífilis é essencial para avaliar a disseminação da doença e a efetividade das estratégias de prevenção e controle.

A seguir, apresentamos um gráfico com a taxa de detecção de sífilis adquirida, sífilis em gestantes e a incidência de sífilis congênita. Esses indicadores permitem analisar a evolução da infecção na população geral, a ocorrência da doença em gestantes e o impacto da transmissão vertical, auxiliando na formulação de políticas públicas de saúde.

Taxa de detecção de sífilis adquirida (por 100.000 habitantes), taxa de detecção de sífilis em gestantes e taxa de incidência de sífilis congênita (por 1.000 nascidos vivos), por ano de diagnóstico. Brasil, 2013 a 2023

Infográfico
Fonte: Sinan - Sistema de informação de Agravos de Notificação (atualizado em 30/06/2024); IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (dados extraídos em agosto de 2024); Sinac - Sistema de informação sobre Nascidos Vivos (dados extraídos em agosto de 2024).

Você sabe qual é a situação epidemiológica na sua cidade, e na sua unidade de saúde? Converse com o gerente da sua unidade. Busque esta informação junto à vigilância epidemiológica do seu município.

Clique aqui e saiba mais sobre o painel de sífilis em gestantes do Ministério da Saúde.

> Quais são as formas clínicas da sífilis?

A sífilis é dividida em estágios que orientam o tratamento e o monitoramento da infecção, a saber:

Sífilis recente
Primária, secundária e latente recente: até um ano de evolução.

Sífilis tardia
Latente tardia e terciária: mais de um ano de evolução.

Entenda as fases evolutivas da sífilis:

Fase Características clínicas
Sífilis primária
  • Ferida, geralmente única, no local de entrada da bactéria (vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca ou outros locais da pele), que aparece entre 10 e 90 dias após o contágio. Essa lesão é rica em bactérias e é chamada de “cancro duro”.
  • Normalmente, ela não dói, não coça, não arde e nem pulsa, podendo estar acompanhada de ínguas (caroços) na virilha.
  • Essa ferida desaparece sozinha, independentemente de tratamento.
Sífilis secundária
  • Os sinais e sintomas aparecem entre seis semanas e seis meses do aparecimento e cicatrização da ferida inicial.
  • Podem surgir manchas no corpo, que geralmente não coçam, incluindo palmas das mãos e plantas dos pés. Essas lesões são ricas em bactérias.
  • Pode ocorrer febre, mal‑estar, dor de cabeça e ínguas pelo corpo.
  • As manchas desaparecem em algumas semanas, mesmo sem tratamento, trazendo a falsa impressão de cura.
Sífilis latente — fase assintomática
  • Não aparecem sinais ou sintomas.
  • É dividida em latente recente (até um ano de infecção) e latente tardia (mais de um ano de infecção).
  • A duração dessa fase é variável, podendo ser interrompida pelo surgimento de sinais e sintomas da forma secundária ou terciária.
Sífilis terciária
  • Pode surgir entre 1 e 40 anos após o início da infecção.
  • Costuma apresentar sinais e sintomas, principalmente lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte.

> Como a sífilis é identificada?

Vimos que a maioria das pessoas com sífilis é assintomática; quando apresentam sinais e sintomas, muitas vezes não os percebem ou não os valorizam, e podem, sem saber, transmitir a infecção às suas parcerias sexuais.

Durante a gestação, a maioria das mulheres se encontra na fase latente. Como nem sempre é possível determinar o momento da infecção primária, estas mulheres se encontram na fase evolutiva que pode ser classificada como “sífilis latente de duração indeterminada”.

O diagnóstico de sífilis é uma combinação de testes sorológicos não-treponêmicos (baseados em laboratório) e testes treponêmicos.

Entenda as diferenças a seguir:

> Como é o tratamento para sífilis na gestação?

O tratamento da sífilis na gestação é feito com penicilina benzatina. O número de doses depende da fase evolutiva da doença, conforme tabela. Três doses são necessárias para o tratamento da sífilis tardia. Como, na gravidez, a maioria dos casos é classificada como sífilis latente tardia ou de duração indeterminada, a maioria das mulheres necessita de três doses. O intervalo entre as doses é de 7(sete) dias (no máximo 9 dias).

Fonte: Freepik (2025)

Veja a tabela com os esquemas terapêuticos recomendados, conforme o estágio da infecção:

Estágio Clínico Esquema Terapêutico
Sífilis recente: sífilis primária, secundária e latente recente (com até um ano de evolução). Benzilpenicilina benzatina 2,4 milhões UI, IM, dose única (1,2 milhão UI em cada glúteo).
Sífilis tardia: sífilis latente tardia (com mais de um ano de evolução) ou latente com duração ignorada e sífilis terciária. Benzilpenicilina benzatina 2,4 milhões UI, IM, 1×/semana (1,2 milhão UI em cada glúteo) por 3 semanas. Dose total: 7,2 milhões UI, IM.

Notificação das parcerias

Notificação do parceiro é um processo que inclui informar a parceria sexual da pessoa infectada (paciente índice) sobre a sua exposição, convidar para a realização de testes, administrar tratamento presuntivo (quando indicado) e aconselhar sobre prevenção de futuras exposições.

Fonte: Freepik (2025)
Atenção

Atenção!

Em casos de sífilis recente, a chance de ambos os parceiros estarem infectados é muito alta, mesmo que um deles apresente testes negativos. Já na sífilis latente tardia, a infecção pode ter ocorrido em uma relação anterior, e o parceiro atual pode não apresentar sinais da doença nem testes positivos.

A notificação inadequada integra um dos principais motivos associados à dificuldade de controle das IST, especialmente da sífilis. O não tratamento de parceiros de gestantes infectadas é frequentemente citado como uma das causas do descontrole da sífilis congênita no país.

> Como fazer a notificação de parcerias?

A notificação pode ser feita pela própria paciente-índice, ou profissional de saúde que fez o diagnóstico (médico ou enfermeiro).

Ocorre quando este, ao ser encorajado pelo profissional, assume a responsabilidade de comunicar o seu diagnóstico ao parceiro para comparecimento ao serviço de saúde. A comunicação pode ser realizada de forma verbal ou mediante entrega de um cartão de comunicação de parcerias sexuais fornecido pela unidade de saúde.

A notificação pode ser efetuada por meio do envio de correspondência, contato telefônico, eletrônico ou busca ativa, desde que sejam respeitados os princípios do sigilo e da confidencialidade.

Para interrupção do ciclo de transmissão de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), é essencial o tratamento das pessoas envolvidas nos relacionamentos sexuais.

Por isso, todas as vezes que uma gestante for diagnosticada com sífilis, é necessária a notificação de parceiros sexuais.

A notificação realizada corretamente contribui para:

  • Reduz a infecção persistente do paciente-índice.
  • Identifica as infecções sexuais assintomáticas.
  • Contribui para a redução da transmissão.
  • Evita sequelas.
  • Oferece oportunidade para discussão sobre sexo seguro.

O ACS tem um papel fundamental na notificação de parcerias de pacientes com IST.

> Papel do Agente Comunitário de Saúde no tratamento

O papel do Agente comunitário de saúde é importante para evitar descontinuidade do tratamento. O acompanhamento prevê:

> Como é o seguimento após o tratamento da sífilis?

Após o tratamento, o seguimento para avaliar a cura deve ser feito com VDRL mensal. Espera-se que o teste de VDRL diminua pelo menos duas diluições ao longo do tempo. Esse tempo pode ser diferente conforme a fase evolutiva da sífilis, no momento do tratamento:

Diferença entre diluição e títulos

Fonte: DCCI/SVS/MS. Nota: afirmar que a titulação da amostra diminui em duas diluições (de 1:64 para 1:16) é equivalente a afirmar que o título da amostra caiu quatro vezes. Isso porque a amostra é diluída em um fator 2; logo, uma diluição equivale a dois títulos.

> Tempo para redução da titulação do VDRL em 2 diluições

Após o tratamento de uma gestante com sífilis é importante avaliar se o tratamento foi efetivo e certificar-se de que a paciente foi tratada e curada. Isso pode ser feito através da dosagem mensal nos títulos de VDRL (em exame não treponêmico). Na gravidez, o VDRL deve ser realizado mensalmente, até o nascimento. O esperado é que os títulos de VDRL caiam progressivamente, da seguinte maneira:

Sífilis recente

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até 6 meses

Sífilis tardia

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até 1 ano

Cenário clínico Exemplo
Titulação não caiu pelo menos duas diluições após o tratamento adequado, no intervalo de:
  • 6 meses — sífilis primária, sífilis secundária e sífilis latente recente;
  • 12 meses — sífilis latente tardia.
De 1:32 para 1:8; de 1:128 para 1:32.
A titulação aumentou duas diluições a qualquer momento durante o acompanhamento. De 1:16 para 1:64; de 1:4 para 1:16.
Sinais ou sintomas de sífilis persistem ou se repetem a qualquer momento durante o acompanhamento.

> O Papel Fundamental do Agente Comunitário de Saúde no Acompanhamento da Gestante

O Agente Comunitário de Saúde (ACS) desempenha um papel fundamental no acompanhamento da gestante, contribuindo significativamente para a saúde e o bem-estar da mãe e do bebê.

  • Acompanhar e garantir a realização do VDRL mensalmente até o final da gravidez.
  • Informar a equipe de saúde se, em qualquer momento, houver um aumento do VDRL em 2 títulos (exemplo: 1:4 para 1:16 ou 1:16 para 1:64).
  • Verificar se os resultados de VDRL foram anotados na Caderneta de Gestante, com as respectivas datas.

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