
Aula 4
Sinais e sintomas comuns da gravidez
Objetivos de aprendizagem:
- Entender o conceito de experiência positiva de gravidez e parto.
- Relatar à equipe médica os sintomas frequentemente mencionados pelas gestantes.
- Conhecer as alterações fisiológicas da gravidez.
- Reconhecer sinais e sintomas de alarme, indicando necessidade de avaliação médica imediata.
-
Orientar uso dos medicamentos sintomáticos de forma segura.
Experiência positiva de gravidez e parto
Em 2018, a OMS publicou recomendações sobre cuidados pré-natais para uma experiência positiva de gravidez. A ideia é que, mais do que simplesmente sobreviver, é essencial que as mulheres possam viver a gravidez e o parto como uma experiência positiva.
Clique aqui e saiba mais sobre a cartilha com as recomendações da OMS sobre cuidados pré-natais para uma experiência positiva na gravidez.

Uma experiência positiva durante a gravidez significa uma normalidade física e sociocultural, uma gravidez saudável para a mãe e o bebê (incluindo a prevenção ou o tratamento dos riscos, doenças e morte), uma transição eficaz para o trabalho de parto e o parto e uma maternidade positiva (incluindo a autoestima materna, a competência e a autonomia). (OMS, 2016)

Discuta com sua equipe.
O que você achou dessa definição? De que maneira o ACS pode contribuir para que as mulheres tenham uma experiência positiva de gravidez?
Alterações fisiológicas da gravidez
Durante a gravidez, o corpo da gestante se modifica para adaptar-se ao crescimento e desenvolvimento do bebê. Por isso, são esperadas alterações no funcionamento de vários órgãos e sistemas, causando sensações diferentes, ora de prazer, ora de desconforto.

Alguns sintomas são comuns, como:
- Aumento dos seios;
- Sonolência;
- Cansaço;
- Inchaço nas pernas;
-
Manchas no rosto e outros.

Atenção!
As náuseas e vômitos costumam ser os sintomas mais incômodos e, em alguns casos, podem ser graves, necessitando até de internação hospitalar.
O desconforto causado por alterações fisiológicas não deve ser definido como uma doença. Por isso, na maioria das vezes, a função da equipe de saúde é simplesmente tranquilizar a gestante, dizendo que esse desconforto não constitui uma ameaça à saúde dela ou do bebê.
Todavia, em alguns casos, esse desconforto pode ser grande o suficiente para afetar a qualidade de vida da mulher. Além disso, a gestante pode apresentar doenças que já existiam antes da gravidez, ou aparecendo pela primeira vez durante a gravidez.
A gravidez pode acentuar sintomas de doenças preexistentes (como varizes e dor lombar crônica). Por outro lado, alterações fisiológicas da gravidez podem mascarar sintomas de novas doenças (falta de ar ou edema nos membros inferiores).

Atenção!
A equipe de saúde nunca pode atribuir todos os sinais e sintomas da gestante às alterações fisiológicas da gravidez. Na dúvida, um médico deve ser consultado. E se mesmo depois da avaliação médica, a mulher persiste com sintomas e sinais muito desconfortáveis, ou em piora, deve ser reavaliada ou revista pelo médico.
É importante lembrar que os sintomas durante a gravidez podem variar de mulher para mulher. Alguns deles são normais e fazem parte das mudanças do corpo, enquanto outros podem indicar a necessidade de cuidados médicos. A tabela a seguir ajuda a diferenciar esses sinais, orientando e aconselhando em caso de sintomas leves e quando encaminhar para avaliação da equipe médica da unidade. Assim, os agentes comunitários de saúde podem agir com mais segurança. Estar atento aos sintomas é fundamental para garantir uma gestação saudável.
Alguns sinais e sintomas comuns na gravidez:
Tratamento sintomático: | Orientação e aconselhamento: |
---|---|
|
|
Sintomas mais comuns durante a gestação
A gestação é um período de grandes mudanças no corpo da mulher, e é comum apresentar uma variedade de sintomas. Desde náuseas e fadiga até dores nas costas e alterações de humor, esses sinais podem afetar a qualidade de vida da gestante. Neste contexto, a caderneta da gestante se destaca como uma ferramenta valiosa, oferecendo orientações sobre os sintomas mais comuns e como lidar com eles.

Que tal orientar a gestante a conhecer melhor a caderneta e suas recomendações?
Pode ocorrer mais facilmente durante a gestação. Por isso, adote um hábito diário de cuidados com sua saúde bucal. Utilize fio dental diariamente e uma escova de dente macia com creme dental.
É importante que a gestante passe pelo dentista, durante a gestação, como rotina. A consulta com o dentista é um indicador de qualidade da atenção básica. Não existem contraindicações para tratamento odontológico durante a gestação, incluindo tratamento de cáries dentárias, aplicação de anestesia e realização de raio X.
São comuns nos primeiros meses da gravidez. Oriente a gestante a evitar longos períodos em jejum e a consumir alimentos mais secos, como bolachas de água e sal, pão ou arroz, além de frutas conforme sua preferência.
Em caso de vômito, oriente-a a apenas bochechar com água e aguardar cerca de 30 minutos antes de escovar os dentes.
Se os sintomas persistirem ou se agravarem, encaminhe a gestante à Unidade Básica de Saúde (UBS).
Oriente a gestante comer mais vezes e em menor quantidade, mastigar mais vezes e lentamente; evitar beber líquidos durante as refeições; e evitar deitar-se logo após as principais refeições.
Podem acontecer na gestação. Orienta a gestante a moderar a atividade física, procurando fazer exercícios de alongamento e beber muita água. A gestante também pode aquecer e massagear as pernas, principalmente antes de dormir.
Aparecem por problemas de circulação e dilatação das veias das pernas, causadas pelo crescimento do útero. Não fique muito tempo em pé ou sentada. A cada duas horas, procure levantar as pernas em uma cadeira. Você pode também usar meias elásticas e preferir calçados e roupas confortáveis.
É um sintoma comum na gravidez. É recomendável comer alimentos integrais ricos em fibras (pão e arroz integrais, granola, linhaça), folhas verdes – alface, couve, taioba, bertalha, ora-pro-nóbis, mostarda, serralha, beldroega – e frutas, como mamão, laranja com o bagaço, ameixa preta, tamarindo. A gestante também deve beber muita água e fazer atividade física regularmente. Dica importante: a gestante não pode atrasar sua ida ao banheiro.
Podem aparecer, principalmente no final da gravidez. Oriente a gestante a evitar carregar peso e diminuir o serviço doméstico, como lavar roupa, limpar o chão e outras atividades que possam gerar esforço na coluna. A gestante também pode fazer exercícios de alongamento.
Se a gestante se queixar de hemorroidas (varizes na região anal, que podem sangrar), oriente que faça banhos de assento com água morna e a evitar o uso do papel higiênico. Oriente a utilizar a água com sabão e enxugar com uma toalha macia. Encaminhe a gestante à consulta de pré-natal.
É comum sentir mais vontade de urinar no início e no final da gestação. Se a gestante sentir dor no local da uretra (local por onde a urina sai) ou sensação de queimação na hora de fazer xixi, encaminhe à Unidade Básica de Saúde. É importante que a gestante saiba que sentir desconforto na região baixa da barriga é comum e não deve ser sempre confundido com sinais de infecção urinária.
O aumento da secreção vaginal (corrimento) é comum na gestação. Se houver outras características, como coceira, ardor e cheiro forte, agende uma consulta com a equipe médica na Unidade Básica de Saúde para uma avaliação.
Algumas podem ser passadas da mãe para o bebê durante a gestação, o parto ou a amamentação e podem causar parto prematuro, doenças ou morte do recém-nascido. É importante saber que algumas dessas infecções podem não apresentar sinais e sintomas. O uso da camisinha em todas as relações sexuais é necessário para diminuir as chances de doenças, inclusive HIV/aids e hepatites virais B e C. A gestante e seu parceiro devem fazer os exames do pré-natal, que ajudam a diagnosticar as IST, reduzindo e até evitando a transmissão da mãe para a criança.
A publicação da OMS, citada anteriormente, traz recomendações baseadas em evidências para o tratamento de sintomas e sinais comuns da gravidez. Você pode observar que a maioria das intervenções são “não farmacológicas”. Isto é, envolvem mudanças em comportamentos e hábitos de vida.
Assista ao vídeo e conheça como aplicar o questionário que avalia a gravidade dos sintomas de náuseas e vômitos.
Agora que você já sabe como avaliar a gravidade das náuseas e dos vômitos durante a gravidez, veja a seguir quais intervenções podem ser orientadas à gestante.
Intervenções para sintomas fisiológicos comuns.
Tipo de recomendação | ||
---|---|---|
Náuseas e vômitos | D.1: Gengibre, camomila, vitamina B6 e/ou acupuntura são recomendados para aliviar as náuseas no início da gravidez, com base nas preferências da mulher e nas opções disponíveis. | Recomendada |
Azia | D.2: Recomenda-se aconselhamento sobre dieta e estilo de vida para evitar e aliviar a azia na gravidez. Podem ser oferecidos preparados antiácidos às mulheres com sintomas incômodos que não possam ser aliviados pela mudança de estilo de vida. | Recomendada |
Cãibras nas pernas | D.3: Pode usar-se magnésio, cálcio ou opções de tratamento não farmacológico para alívio das cãibras nas pernas na gravidez, com base nas preferências da mulher e nas opções disponíveis. | Recomendada |
Dores lombares e pélvicas | D.4: Recomenda-se exercício regular durante toda a gravidez, para evitar as dores lombares e pélvicas. Existem várias opções de tratamento que podem ser usadas, como a fisioterapia, cintas de suporte e acupuntura, com base nas preferências da mulher e nas opções disponíveis. | Recomendada |
Obstipação | D.5: A sêmola de trigo ou outras podem ser usadas para aliviar a obstipação durante a gravidez, se não houver resposta à modificação da dieta, com base nas preferências da mulher e nas opções disponíveis. | Recomendada |
Veias varicosas e edema | D.6: Opções não farmacêuticas, como meias de descanso, elevação das pernas e imersão em água podem ser usadas para o tratamento das veias varicosas e edemas na gravidez, com base nas preferências da mulher e nas opções disponíveis. | Recomendada |
É importante não deixar passar despercebidos sinais e sintomas de doenças mais graves. Sabemos que o fator que mais contribui para a mortalidade materna é o atraso no diagnóstico de doenças graves. Evite que ocorram atrasos quando a gestante procurar um serviço de saúde. Sintomas de doenças graves, na fase mais inicial, podem ser confundidos com alterações fisiológicas e sua importância pode não ser reconhecida.
Esteja atento aos sinais de alerta!
Você sabe quais são os sinais de alerta mais importantes?
- Pressão alta;
- Sentir dores fortes de cabeça, com a visão embaralhada ou enxergando estrelinhas;
- Tiver sangramento ou perda de líquido (água) pela vagina;
- Apresentar muito inchaço nos pés, nas pernas e rosto, principalmente ao acordar;
- Tiver dor ou ardor na uretra (local por onde sai a urina) ao urinar;
- Houver sangramento, mesmo sem dor;
- Tiver contrações fortes, dolorosas e frequentes;
-
Apresentar febre, dor de cabeça, dor no corpo, vermelhidão nos olhos ou manchas vermelhas na pele.
Na vigência de surtos ou epidemias de arboviroses (dengue, zika, Chikungunya) ou outras doenças infecciosas, esteja atento aos sintomas apresentados pela gestante. Na dúvida, solicite avaliação da equipe médica. Se o médico avaliou e os sintomas continuam ou pioram, peça ao médico para avaliar novamente.
Ao final desta aula, é fundamental que cada um de vocês, como agentes comunitários de saúde, compreenda a importância de observar atentamente os sinais e sintomas das gestantes. O acompanhamento precoce e a identificação de alterações no estado de saúde da mãe e do bebê podem fazer toda a diferença na prevenção de complicações graves. Ao perceber os sinais normais e, principalmente, os sinais de alerta, vocês têm a oportunidade de agir rapidamente, oferecendo orientações adequadas e encaminhamentos para o cuidado da equipe médica. Lembrem-se de que a confiança da gestante em vocês é um dos pilares para garantir um pré-natal de qualidade.
